Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Depois de avaliar que foi um sucesso a repercussão do boné com a frase “O Brasil é dos Brasileiros”, o secretário de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, planeja iniciar uma campanha nacionalista, de defesa dos interesses nacionais. Surfa na linha da reação ao presidente dos EUA, Donald Trump, que, ao sobretaxar o aço, prejudica a economia brasileira. Dentro desse caminho de procurar tomar da direita, ligada a Trump, essa defesa do Brasil e da “Pátria”, a Petrobras poderá ter um papel decisivo. Há uma avaliação de que a campanha “O Petróleo é Nosso”, da primeira metade do século passado, foi o maior momento de defesa nacionalista do país. Mas as novas gerações já não têm praticamente memória alguma disso.
Esquecida
Em um tempo em que o uso do automóvel não é algo mais muito badalado, e depois dos escândalos que envolveram a companhia na Lava Jato, a ideia de que a Petrobras é um dos maiores ativos do país não está na cabeça dos jovens. Ela é só mais um posto de gasolina.
Empresa
O ranking das dez empresas mais lucrativas do país é liderado pela Petrobras. E ele é recheado de bancos, que não necessariamente geram crescimento para o país. É nesse sentido que a Petrobras trabalha para repor a sua imagem junto ao público na onda nacionalista.
Petrolífera deverá patrocinar a Seleção Feminina
Brasil sediará próxima Copa do Mundo feminina | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Na linha desse aprofundamento de marketing, a Petrobras planeja patrocinar a Seleção Brasileira de Futebol Feminino. Em um momento em que o time masculino capenga um bocado, a atenção sobre as mulheres aumenta. Nas últimas Olimpíadas, elas conquistaram a medalha de prata. Em 2027, o Brasil sediará a Copa do Mundo feminina. A ideia da Petrobras é, colando na força do futebol das mulheres, recuperar a sua imagem. E, dentro do que imagina Sidônio, contribuir assim para a retomada do orgulho sobre os valores do país. O problema: em tempos de aquecimento global, o petróleo já não tem o mesmo charme.
Amazônia
Em uma entrevista a uma rádio do Amapá, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicitou o que já dissera ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP): sua posição é favorável à exploração de petróleo na foz do Amazonas. A Petrobras está empenhada nisso.
16 poços
Todo o plano de exploração na chamada Margem Equatorial prevê a exploração de 16 poços. O investimento previsto é de R$ 3,1 bilhões. Mas, por enquanto, a Petrobras só tem autorização do Ibama para dois poços, bem mais abaixo, na costa do Rio Grande do Norte.
Guiana
Um dos argumentos da Petrobras é que a Guiana já explora petróleo na região, sem notícia de dano ambiental. Também nunca houve problema de dano ambiental em nenhum dos poços já explorados pela Petrobras na região do pré-sal. Seria possível sem risco.
Direita
No fundo, é o tipo de discussão que, se provocar danos de imagem, será à esquerda. E, no fundo, o público de esquerda não tem alternativa a Lula. E esvazia um discurso de direita. Nesse ponto, a defesa de Lula do petróleo acaba se aproximando muito da de Trump.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congresso em Foco e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade