A venda do polo é uma perda lastimável para a Petrobrás e, principalmente, para a população da região
que já começou a sofrer os efeitos da privatização. Uma das primeiras medidas da gestão privada foi aumentar o preço dos combustíveis. Um dia depois de ser privatizada, de acordo com divulgações da imprensa, a refinaria passou a vender o litro da gasolina R$ 0,23 mais caro e o diesel subiu R$ 0,51.
Outra triste consequência da venda do Polo Potiguar é o número de trabalhadores demitidos. Segundo dados do Sindipetro-RN, já houve 300 dispensas e mais 950 empregados receberam aviso prévio. Em declarações nas redes sociais, noticiadas pela mídia, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, afirma que a Petrobrás vai reinaugurar a sede de Natal no dia 19 de junho e “se revitalizará fortemente em breve”, permanecendo no estado. Sobre as demissões, ele disse que a companhia já busca soluções para alocar os empregados da região, com a previsão de abertura de vagas administrativas em Natal e offshore para quem quiser embarcar.
São louváveis as preocupações da nova diretoria em adequar os trabalhadores – temos que reconhecer que, após vivenciarmos vários anos de descaso com os trabalhadores, essa nova gestão trata a força de trabalho com outros olhos, valorizando e respeitando os empregados. Mas, dependendo da realidade de cada trabalhador, as opções oferecidas poderão não atender às necessidades. A verdade é que com a privatização sempre haverá muita gente prejudicada.
A venda do Polo Potiguar já é questionada no âmbito da Justiça Federal do Rio de Janeiro. No mês passado, o escritório de advocacia que representa a FUP entrou com uma Ação Popular contra a negociação, alegando potencial conflito de interesses. Na época da compra, o presidente da Petrobrás era Roberto Castello Branco, que atualmente exerce o cargo de presidente do Conselho de Administração da 3R Petroleum. A ação alega que a empresa “adquiriu uma parte significativa dos ativos vendidos pela Petrobrás”. O fato de as vendas terem sido realizadas sob a liderança do então presidente da Petrobrás que, após sair da empresa, assumiu a presidência do CA da compradora é, no mínimo, intrigante. Digamos que há um evidente conflito de interesses nesse trânsito gerencial. E ele não é o único ex-gestor da Petrobrás que assumiu cargos na 3R, a famosa “porta giratória” virou ventilador.
“Essa conexão entre a antiga gestão da Petrobrás e a atual posição ocupada por Castello Branco aponta sérios indícios de conflito de interesses na gestão da Petrobras em favorecimento à 3R Petroleum”, relata a ação.
Durante a gestão de Castello Branco na Petrobrás, a 3R Petroleum comprou mais de R$3 bilhões de ativos da estatal, dentre eles, todo o polo petroquímico de Areia Branca, Pescada, Arabaiana, Macau e Potiguar, no Rio Grande do Norte.
Reforço que, na minha visão, é necessário que os processos de privatização de ativos da estatal implementados entre 2016 e 2022 sejam analisados e avaliados pelo novo governo e seus agentes, evitando-se o risco de serem acusados de omissos pela história. O desmonte e a desverticalização da Petrobrás promovidos nesses últimos sete anos são inquestionáveis, assim como as consequências lesivas para a empresa e o país. O fato é que a Petrobrás foi criada pelo povo brasileiro para servir a ele e à nação.