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“Compras do governo são inegociáveis. Não vamos ceder aos europeus”, diz Lula

    “Não vamos ceder porque a gente vai matar a possibilidade do crescimento da pequena e média empresa brasileira”. “Da mesma forma que a França defende de forma fervorosa os seus produtos agrícolas, o seu vinho”, disse Lula, “vamos defender nossa pequena indústria”

    Ao falar para uma plateia de empresários na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), na última quinta-feira (25), o presidente Lula informou ao industriais presentes que está sendo pressionado pelos europeus para abrir as compras governamentais do país e deixou claro que não vai ceder à essa pressão. O presidente discursou na cerimônia de encerramento do evento pelo Dia da Indústria.

    “Tratem de ficar atentos”, disse ele aos empresários. “Estamos próximos de começar a conversar com a União Europeia sobre o acordo com o Mercosul. E é importante vocês saberem que uma das coisas mais importantes que eles querem de nós é que a gente ceda as compras governamentais. Mas não vamos ceder porque a gente vai matar a possibilidade do crescimento da pequena e média empresa brasileira”, afirmou o presidente.

    De acordo com o chefe do Executivo, a reabertura das discussões sobre o tema podem até atrasar as negociações em torno do acordo, mas a posição do Brasil objetiva proteger a pequena e a média indústria brasileiras.

    “As compras governamentais são instrumento de política industrial que não vamos abrir mão. Vamos demorar um pouco mais para fechar o acordo, tudo bem. Mas da mesma forma que a França defende de forma fervorosa os seus produtos agrícolas, o seu vinho, vamos defender nossa pequena indústria nessa negociação”, disse Lula .

    O acordo entre Mercosul e União Europeia vem sendo discutido ao longo de mais de 20 anos. A Europa quer as compras do setor público abertas à sua participação. Eles argumentam que haveria maior concorrência. Para Lula, no entanto, a medida prejudicaria a indústria brasileira, que poderia perder espaço na venda para os governos federal e estaduais. As compras públicas são importante mecanismo para se atingir metas econômicas no país.

    Ainda em janeiro, Lula havia criticado o impasse durante visita do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, ao Brasil. A proposta feita pelos europeus, incluindo um protocolo ambiental de última hora que acompanharia o acordo comercial entre Mercosul e Europa, e o comportamento de Bruxelas decepcionam o governo brasileiro. O protocolo apresentado foi considerado inaceitável pelo Planalto e chegou a ser considerado desrespeitoso com a soberania dos países sul-americanos.

    O governo brasileiro não gostou das exigências extras feitas pelos europeus se utilizando de questões ambientais para dificultar a entrada de produtos da região no velho continente. O governo brasileiro acha que as economias mais protecionistas do bloco europeu estão usando os aspectos ambientais para justificar a criação de novos obstáculos ou mesmo medidas restritivas às exportações nacionais.

    O Planalto argumenta também que os europeus já adotaram protocolos extras em outros tratados comerciais, mas os documentos jamais significaram condições adicionais. Um exemplo citado é o acordo entre a Europa e o Canadá, outro importante exportador agrícola. O Mercosul não está disposto a facilitar importações europeias sem a contrapartida do aumento das compras feitas por eles no bloco sul-americano.

    As manobras da União Europeia, elevando exigências ambientais descabidas ao governo brasileiro como condição para um possível acordo com o Mercosul, confirmam que o objetivo central dos europeus nestas negociações é o escancaramento das fronteiras do bloco para seus produtos e serviços ao mesmo tempo que se utilizam de barreiras protecionistas – supostamente ambientais – para impedir a entrada de produtos do bloco no continente.

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