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No Senado, setor produtivo defende queda imediata dos juros para retomada do país

    Em debate, Campos Neto vê retórica do arrocho monetário desabar diante de senadores e representantes da indústria e dos transportes. “Estamos com vários setores da economia drasticamente afetados”, alertou Haddad

    Habituado à bolha do capital financeiro, seu habitat natural, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, passou pelo constrangimento de ouvir relatos de agentes do setor produtivo sobre o estado da economia real, nesta quinta-feira (27), no Senado Federal. Pela segunda vez nesta semana, em debate promovido pela Casa sobre juros, inflação e crescimento, Neto viu sua retórica cair por terra diante dos fatos: o país não terá condições de atrair investimentos e se desenvolver com as taxas de juros abusivas de 13,75%. O patamar tem sido mantido por Neto de modo inexplicável, sobretudo em um ambiente de desaceleração da inflação.

    Mesmo em queda, o índice tem sido usado por Neto para segurar os juros nas alturas. Visivelmente nervoso, o burocrata procurou ancorar-se em uma espécie de ‘manual pessoal de boas práticas do mercado financeiro’, recorrendo a termos como “condições financeiras” e “credibilidade”, além de insistir no “diagnóstico” de que a inflação de curto prazo não tem caído na velocidade necessária para que os juros sejam reduzidos.

    Assim como na audiência de terça-feira (25), na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), não convenceu. Neto estava diante de senadores, representantes de setores essenciais da economia como indústria, transporte e comércio, além de economistas e os ministros Simone Tebet, do Planejamento, e da Fazenda, Fernando Haddad, representando o governo federal.

     “Se a economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária, nós vamos ter problemas fiscais, porque a arrecadação vai ser impactada”, alertou Haddad, na abertura do debate. “Não tem como dissociar o monetário do fiscal”, disse, ao defender uma harmonização entre política fiscal e monetária para reduzir a Selic e alavancar o crescimento brasileiro.

    “Estamos com vários setores da economia drasticamente afetados, advertiu. “Recebo vários setores, dizendo das dificuldades, desde uma Santa Casa até uma companhia aérea, passando pelo varejo”, afirmou o ministro, ao apontar o desequilíbrio entre a política monetária do Banco Central e a política econômica.

    “Temos uma agenda importante de recuperação da nossa capacidade de crescer, gerar emprego, renda, gerar desenvolvimento”, pontuou Haddad, lembrando que a matriz produtiva do país encontra-se “completamente defasada”.

    Escassez de crédito

    O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, expôs o quadro de escassez de crédito ao setor produtivo, derivado da atual taxa Selic. “Não tem nenhuma atividade empresarial, industrial, que tenha capacidade de enfrentar uma situação dessa”, lamentou Andrade.

    “O banco que faz um empréstimo nessas condições, se está pensando na rentabilidade das empresas, está indo na direção errada”. Indiretamente, Andrade frisou que a inflação não pode ser usada como desculpa para o Bacen manter os juros elevados. “É claro que a inflação não pode ser elevada. Todos nós concordamos com esse ponto”, disse.

    “Agora, nós também precisamos dosar esses juros, presidente Roberto Campos [Neto], para que atenda, claro, as questões da meta de inflação, mas que também não prejudique o crescimento e o desenvolvimento econômico”, observou Andrade.

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