Ontem (17), realizou-se a visita do chanceler russo Sergei Lavrov ao Brasil, que contou com importante encontro com ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira.
A visita, que já havia sido programada há algumas semanas, terminou com a convicção de que: por mais que estejam distantes geograficamente, Brasil e Rússia guardam algumas visões de mundo bastante próximas acerca das relações internacionais contemporâneas.
A primeira delas foi justamente (re)confirmada durante a recente ida de Lula à China e tem relação com a contestação do papel do dólar como moeda de transação global, ponto este que vem sendo levantado ao longo de vários anos pela Rússia, vítima de sanções ocidentais desde 2014.
Moscou, por sua vez, se tornou um dos principais países a advogar o uso de moedas alternativas para o comércio bilateral com parceiros econômicos importantes (como é o caso, por exemplo, de China e Índia), assim como com o próprio Brasil.
Nesse quesito, as recentes declarações de Lula na China demonstraram que o Brasil entende as mudanças hoje em curso, em que o dólar vem perdendo prestígio internacionalmente devido às políticas erráticas dos Estados Unidos, o que aponta para uma nova reconfiguração (geo)econômica nas relações globais de comércio.
Outra questão importante tratada na visita tem relação com a abordagem brasileira frente ao conflito na Ucrânia. Lula tem se posicionado no sentido de encorajar esforços para o estabelecimento de conversações de paz entre os atores envolvidos, fazendo um verdadeiro chamamento aos países considerados “neutros” e do Sul Global para que juntos possam facilitar uma resolução para a crise.
Na entrevista concedida após o encontro com Lavrov, Mauro Vieira confirmou a posição do Brasil como um dos principais advogados por trás da criação de um grupo voltado para a retomada de negociações entre Rússia e Ucrânia.
Com efeito, embora tenha votado juntamente com o Ocidente nas moções condenatórias à Rússia na Assembleia Geral da ONU, o Brasil ainda assim endossou as propostas chinesas para uma solução de paz, nas quais evidencia-se uma interpretação diferente da dos países ocidentais sobre o conflito.
Na declaração conjunta sino-brasileira, ambos os países adotaram uma posição de crítica ao fortalecimento e expansão de blocos militares na Europa, reafirmando sua rejeição quanto à aplicação de sanções unilaterais sem autorização do Conselho de Segurança da ONU, assim como a importância do conceito de “indivisibilidade” da segurança internacional.
Sobre a questão das sanções, por exemplo, Mauro Vieira fez questão de lembrar os efeitos negativos que elas causam para a economia global e para os países em desenvolvimento, posto que tais países são justamente os mais vulneráveis a choques externos.
No mais, a visita de Lavrov ao Brasil se deu sob o pano de fundo de uma (re)aproximação da Rússia com a América Latina, dessa vez em bases mais pragmáticas e desideologizadas (como afirma o mais recente Conceito de Política Externa da Rússia).
Diante dessa nova conjuntura, a Rússia indicou sua intenção não somente em aprofundar laços comerciais com o Brasil, mas também em ampliar sua parceria estratégica para a defesa da “multipolaridade” nas relações internacionais.