Diplomata diz que EUA “podem pensar o que quiserem”, visto que “Brasil é crítico” sobre a operação russa, mas não acha certo “fortalecer militarmente um lado” e aplicar sanções, pois não “leva à paz”. Amorim também chamou de “hipocrisia” barulho feito ante declaração de Lula sobre a Crimeia, uma vez que “europeus pensam o mesmo, mas falam baixo”.
Ontem (17), a Casa Branca, através de seu porta-voz de Segurança Nacional, John Kirby, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por sua afirmação de que os americanos deveriam parar de alimentar o conflito na Ucrânia.
Para Washington, “o Brasil está repetindo como um papagaio a propaganda da Rússia e da China, sem analisar os fatos”.
Hoje (18), o ex-chanceler e assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, respondeu que a acusação norte-americana “é totalmente absurda“, uma vez que “em vários momentos o Brasil condenou, no atual governo, a invasão”.
“Eu não vou entrar em polêmica com o assessor de imprensa lá da Casa Branca. Deixa ele pensar o que ele quiser. […] A nossa atitude é clara. Nós já votamos resoluções da ONU [condenando a operação], ele [Lula] já falou [condenando o ato da Rússia]. Não há dúvida de que o Brasil é crítico. O Brasil defende a Carta da ONU e o direito internacional. Agora, o que a gente acha é que não adianta ficar só nisso, ou ficar fazendo sanções, ou querendo derrotar a Rússia. Isso não vai trazer paz. A Rússia é um país muito importante e muito grande, além de ser parceiro do Brasil. E você tem que buscar uma maneira de que haja [negociações de paz]. Foi a ênfase do que o presidente Lula falou”, afirmou Amorim segundo a Folha de São Paulo.
Indagado do porquê que o presidente Lula acredita que os Estados Unidos e a União Europeia ajudam a perpetuar o conflito, Amorim respondeu que “trabalhar para fortalecer militarmente um lado” e aplicar sanções não contribuem para o caminho da paz.
“Há declarações específicas [de autoridades dos EUA e de países europeus], do tipo ‘temos que derrotar a Rússia’ ou ‘temos que debilitar a Rússia’ […]. Agora, dentro da concepção de que a Rússia errou, a nossa posição é a de fazer com que os países conversem. A guerra não é uma solução nem para a Rússia nem para a Ucrânia. Essa é a questão do Brasil. Apenas trabalhar para fortalecer militarmente um lado [o que tem sido feito por EUA e países europeus], ou para, digamos, impor sanções ao outro, não se contribui para a paz. Não se contribui para a conversa, não se cria um clima favorável à busca de negociações. E [essas autoridades] acabam, voluntária ou involuntariamente, contribuindo para o prolongamento da guerra.”
Amorim também pontuou que o Brasil não acha que sozinho vai conseguir mediar o conflito ou alcançar a paz, mas que junto a outros países sim, e relembrou a declaração conjunta entre Brasília e Pequim na semana passada.
“Há uma clareza muito grande de que não é o Brasil que vai fazer a paz. Tem que ser um grupo de países. Releia a declaração conjunta do presidente Lula e do presidente da China, Xi Jinping, que fala que os dois países apoiam os movimentos todos para a paz e convida outros países a se juntarem a esse esforço. Claramente não é uma coisa que o presidente Lula fará sozinho”, analisou o ex-chanceler.