Brasil quer reunir países dispostos a conversar sobre o fim da guerra, disse o chanceler brasileiro, Mauro Vieira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, nesta segunda-feira (17), no Palácio da Alvorada, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, que cumpre agenda oficial em Brasília. O encontro foi reservado, segundo informações da Agência Brasil.
De acordo com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, foi uma visita de cortesia. Mas também serviu para resolver a agenda que interessa ambos os países, inclusive do ponto de vista comercial e também das relações políticas externas.
Após o encontro, Vieira falou a jornalistas na entrada da residência oficial e comentou sobre a disposição de o governo brasileiro ajudar a dialogar sobre a guerra na Ucrânia.
Na visita, o chanceler russo formalizou convite do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para que Lula visite o país eslavo.
“A conversa, tanto comigo como com o presidente, não entramos em questão de guerra. Entramos em questões de paz. O Brasil quer promover a paz, está pronto para arregimentar ou se unir a um grupo de países que estejam dispostos a conversar sobre a paz. Essa foi a conversa que nós tivemos”, afirmou.
O ministro evitou comentar críticas de países ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, sobre a posição brasileira em relação ao conflito. “O Brasil e a Rússia completam, este ano, 195 anos de relação diplomática, com embaixadores residentes”, destacou.
CONVITE PARA VISITAR A RÚSSIA
Mauro Vieira também relatou que Lula recebeu, das mãos de Lavrov, carta enviada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em que o convida para visitar a Rússia, em junho, para fórum econômico em São Petesburgo.
“O convite está sendo examinado”, disse o chanceler.
Ainda este ano, os governos de Brasil e Rússia devem se reunir novamente por meio da comissão de alto nível dos dois países, que são presididas pelo vice-presidente brasileiro e o primeiro-ministro russo.
“Identificamos uma quantidade bem grande de interesses comuns, em ciência e tecnologia, cultural e pesquisa espacial”, destacou Vieira.
VISITA OFICIAL
Mais cedo, no Palácio do Itamaraty, Lavrov agradeceu o empenho do Brasil para negociar o fim da guerra e disse que o governo russo está interessado em solucionar o conflito o mais rapidamente possível.
Lavrov fez a declaração após se reunir com o ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Desde o início do governo, Lula tem defendido a criação de grupo de países neutros para negociar saída pacífica entre Rússia e Ucrânia. A guerra já dura mais de 1 ano em reação à atuação agressiva da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em países próximos à fronteira com a Rússia.
“Reiterei nossa posição em favor de um cessar-fogo imediato, do respeito ao direito humanitário e de solução negociada com vistas a uma paz duradoura e que contemple as preocupações de ambos os lados”, disse o chanceler brasileiro em declaração à imprensa após o encontro.
PAZ INTERESSA A TODO O PLANETA
Em viagem à China na semana passada, o presidente Lula disse que, com “boa vontade” mútua, seria possível convencer que a paz interessa a todo o planeta.
O presidente brasileiro pediu paciência para convencer os países que estão fornecendo armas à Ucrânia, dizendo que os Estados Unidos devem parar de “incentivar a guerra” e sugerindo que a União Europeia e os demais países comecem a falar em paz.
SANÇÕES
O conflito tem impactado o comércio global, com as sanções ilegais impostas à Rússia pelos Estados Unidos, Japão e países europeus. Além disso, Rússia e Ucrânia são grandes produtores agrícolas, e a guerra está causando aumento nos preços dos alimentos em todo o mundo.
A Europa também está sendo fortemente impactada pela falta do fornecimento de gás natural da Rússia.
Nesta segunda-feira, Mauro Vieira reiterou a posição brasileira contrária à aplicação de sanções unilaterais. “Tais medidas, além de não contarem com a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem impacto negativo a todo o mundo, em especial aos países em desenvolvimento, muitos dos quais ainda não se recuperaram plenamente da pandemia”, disse.
PRINCIPAL FORNECEDOR DE FERTILIZANTES
Para o Brasil, a Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes, insumo essencial para o agronegócio brasileiro. No ano passado, o presidente russo garantiu o fornecimento ininterrupto de fertilizantes para o país.
Nesta segunda-feira, os chanceleres conversaram sobre medidas para garantir o fluxo desse insumo.
Brasil e Rússia também atingiram quase US$ 10 bilhões em comércio bilateral este ano. “Era o volume que tinha sido estabelecido como meta, há cerca de 12 anos, quando foi criada a comissão de alto nível [entre os dois países]”, afirmou Mauro Vieira.