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Falta de crédito e juros extorsivos seguem asfixiando a indústria brasileira, aponta Iedi

    “Crédito mais salgado tira atratividade dos bens duráveis. Ao mesmo tempo, torna mais difícil a renegociação das dívidas das famílias, o que deve manter o consumo em baixa”, avalia economista da entidade

    Análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostra que, para além da queda de -0,3% da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, o recuo só não foi maior devido ao desempenho do segmento de menor concentração tecnológica.

    Para o economista do Iedi, Rafael Cagnin, os juros elevados e o endividamento das famílias tende a complicar a situação da indústria este ano, particularmente, a de alta intensidade, “dado que o crédito mais salgado tira atratividade dos bens duráveis. Ao mesmo tempo, torna mais difícil a renegociação das dívidas das famílias, o que deve manter o consumo em baixa”.

    “Não por acaso, o segmento de melhor desempenho ano passado foi o de menor dependência do financiamento. São os chamados bens-salário ou de consumo rotineiro, como vestuário e alimentos”, declarou Rafael Cagnin ao Valor Econômico.

    O segmento de média-baixa intensidade tecnológica registrou avanço no ano passado de 3,3%, respondendo por 48,8% da produção manufatureira no Brasil.

    “Quem gerou essa quase estabilidade foram as atividades de intensidade mais baixa. São ramos de cadeias mais curtas, com poucos elos dentro do país, ou seja, com possibilidade menor de dissipar crescimento”, disse Cagnin.

    Esse resultado ocorreu basicamente nos ramos de alimentos e bebidas e derivados de petróleo, favorecidos pela alta dos preços das commodities e o aumento das exportações. Mas mesmo dentro desse segmento os demais componentes ficaram negativos. Os principais foram produtos de metais (-9,5%) e têxteis, vestuário e calçados (-7,0%).

    O Iedi utiliza a classificação sugerida pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que divide o setor em quatro segmentos segundo a intensidade tecnológica: alta, média alta, média e média baixa.

    O pior resultado foi o de intensidade média (-5,4%), que tem fatia de 16,6% na manufatura. Três dos cinco ramos tiveram resultados mais fracos que o de 2020, pior ano da Covid: borracha e plástico, minerais não metálicos e fabricação de bens diversos.

    O segmento de alta tecnologia está há quatro anos sem crescimento. Ele representa 5,8% da produção nacional, tendo registrado estabilidade em 2022.

    O segmento de média-alta intensidade, com participação de 28,8%, teve um aumento quase zero ou de 0,3%. O destaque ficou para bens de capital e, consequentemente de investimentos: máquinas e aparelhos elétricos (-10,7%) e máquinas e equipamentos (-2,3%). A indústria automobilística teve um percentual aparentemente expressivo de 10,2%, mas em parte em razão de uma base de comparação muito fraca.

    “Esse comportamento destoa do observado no restante do mundo. No agregado da indústria mundial, são justamente setores de alta e média alta que puxam a produção, impulsionadas por toda essa transformação causada pela Covid-19”, ressaltou o economista.

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