A ideia é captar recursos no mercado por meio de Letras de Crédito de Desenvolvimento nas áreas de Infraestrutura e Energia Renovável, que seriam bem mais atraentes do que a CDI, para não ter que depender dos altos juros do Banco Central. E bandas diferenciadas, com juros subsidiados, para renováveis.
Segundo a matéria de Jaqueline Mendes, na ISTOE Dinheiro, a equipe do BNDES e Mercadante não tem dúvidas de que, sob a gestão de Campos Neto, o BACEN continuará pressionando investidores a apostar nos juros altos e não no crescimento da economia.
E muito menos, na geração de novos empregos.
Mercadante e equipe perceberam que, dentre todos os setores da economia, as energias renováveis, em especial, são das mais prejudicadas pelos altos juros até aqui. Eles perceberam também que se as renováveis crescerem, isso traria consigo quatro consequências altamente favoráveis, mas altamente indesejadas segundo Campos Neto.
A primeira consequência “indesejável” seria reduzir o consumo de derivados de petróleo, hoje inteiramente importados dos Estados Unidos através de um “Clube de 462 Amigos” do ex-presidente. O mesmo que teve a brilhante(!) ideia de vender refinarias por metade do seu preço real, reduzindo em 50% a produção das que ainda pertencem à Petrobrás.
O segundo efeito “ruim” das energias renováveis seria baixar as tarifas de energia elétrica, pois gerar energia com sol, vento e quedas d’água, é oito vezes mais barato do que a gerar com as termoelétricas, que são movidas com os derivados de petróleo fornecidos pelo “Clube” de importadores, muitos dos quais, donos deste tipo de usinas.
A terceira consequência “indesejável” das energias renováveis seria reduzir não só o custo de vida das famílias, mas da produção das indústrias brasileiras, aumentando sua competitividade. E tudo isso, claro, reduziria o desemprego e prejudicaria qualquer plano do ex-presidente Bolsonaro.
A quarta consequência “ruim” de baixar os juros para investimentos em sistemas renováveis aqui fabricados, seria a redução a zero das emissões de gases de efeito estufa. E sendo esse compromisso assumido por Lula na ONU e na campanha, Campos Neto faz questão de não permitir realiza-lo, pois traria reconhecimento mundial inaceitável.
Os altos juros são, sem dúvida, uma forma “eficiente” de impedir que mais brasileiros participem do setor das renováveis.
Por isso, hoje, apenas gigantes internacionais, altamente capacitados, conseguem competir, por captarem a juros muito menores e adquirirem enormes equipamentos importados em enormes quantidades mundiais.
Isso precisa melhorar.
Independente de preferências políticas, a reconstrução da nossa economia deve continuar e a sua retomada passa obrigatoriamente pela redução dos custos da geração das renováveis. Não apenas usando o sol e o vento, mas os importantíssimos reservatórios de água doce das hidrelétricas.
Pois além de gerarem energia, eles abastecem cidades como Salvador, viabilizam a piscicultura, como em Itaipu, a fruticultura e a produção de alimentos no Nordeste, o transporte fluvial, o turismo e a proteção das matas ciliares. E ainda tem a vantagem de fazer isso tudo também durante a noite e de madrugada. Não só de dia.
Não esqueçamos, presidente Mercadante, que toda a cadeia produtiva da indústria de equipamentos de geração hidrelétrica e toda a tecnologia de projeto e construção já é 100% nacional. Embora tenham tentado destrui-la, alegando o combate à corrupção.
Mas para ela não desaparecer e com ela, – também a tecnologia que dominamos com décadas de trabalho e investimento – , não pode mais essa fonte continuar a ser discriminada e mesmo, demonizada de forma irracional e aparentemente, tendenciosa.
Não esqueçamos ainda, que se as reservas mundiais de lítio, que somam 14 milhões de toneladas, das quais o Brasil tem 8%, fossem transformadas em baterias, do dia para a noite, elas não seriam suficientes para armazenar nem durante apenas 3 segundos a carga de que o mundo inteiro representa para os sistemas de energia elétrica.
Pensando de forma estratégica, no Brasil, China, Índia, Congo e Rússia, estão 50% dos potenciais hidrelétricos remanescentes no mundo, ficando o nosso país com 10%. Nem que o informe anual da Agência Internacional de Energia mostra que depois de seis anos de declínio as novas hidrelétricas cresceram em um ano, mais de 18 GW (Itaipu tem 14 GW) em projetos na China, Índia, Laos, Nepal, Vietnam, Turquia e Indonésia.
Por isso, não apenas devemos estimular essa indústria de equipamentos de energia renovável hidrelétrica a produzir para o consumo interno, mas sim exportar essa tecnologia, esses serviços e essa produção para o mundo inteiro. Pois parece que depois da corrida ao solar o mundo se deu conta que precisamos de hidrelétricas de noite e de madrugada, se não quisermos depender de termoelétricas fósseis.
Não existe razão para que preconceito e a discriminação contra investimentos em geração hidrelétrica, governem o BNDES e o MME, ANEEL, EPE, desde que projetados e realizados segundo critérios de sustentabilidade socioambiental.
Importante lembrar que além dos recursos captados no mercado, para financiar novas hidrelétricas, solares, eólicas e usinas a biomassa a juros baixos, devemos adicionar os recursos obtidos com a exportação de petróleo e derivados do velho e dos novos “Pré Sal” de Alagoas, Sergipe e da “Margem Equatorial Brasileira” do Amapá ao Rio Grande do Norte.
Isso seria o verdadeiro sonho da humanidade, com o recurso fóssil financiando as fontes renováveis, uma ideia que Gilberto Estrella Ildo Sauer, ex-diretores da Petrobrás, defenderam e praticaram durante vários anos.
Sempre foi da criatividade e da necessidade que surgiram os verdadeiros avanços da humanidade. E ambas, nestes tempos amargos e desafiadores estão presentes no Brasil.
A questão central é: vamos usá-las ou continuaremos a colecionar derrotas?
- Engenheiro ex-CEO da COPEL DIS e da ABRAPCH.