Informações se somam às investigações dos ataques do 8 de janeiro.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) causou rebuliço no mundo político nesta quinta-feira, 02. Na madrugada, ele anunciou em live nas redes sociais sua renúncia ao mandato afirmando que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a executar um plano golpista em dezembro passado para prender o ministro Alexandre de Moraes e impedir a posse do hoje presidente Lula (PT). Mais tarde, já pela manhã, o senador desiste de renunciar ao mandato e tenta amenizar a participação do ex-presidente no caso. Entenda a denúncia e o desfecho até o momento.
Plano golpista
De forma resumida, teria ocorrido uma reunião em dezembro passado entre Bolsonaro, Do Val e o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), na qual foi pedido ao senador que gravasse alguma conversa que comprometesse o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Do Val teria sido designado para a função por ter contato com Moraes de quando atuou na área da segurança pública.
O plano era tornar esses áudios públicos para fomentar um terreno fértil para o golpe: Moraes seria preso, Bolsonaro seguiria no cargo e Luiz Inácio Lula da Silva não assumiria a presidência.
Do Val disse a Folha de São Paulo que “Era muito perceptível o medo do Daniel de ficar vivendo com a sombra do Alexandre de Moraes querendo prender ele a qualquer hora. Aí ele queria fazer o inverso. Construiu um complô para o Alexandre ser preso”.
Revelada pela Veja, uma mensagem atribuída a Silveira dizia ao senador que “Se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil”.
Provas
A fatídica reunião teria ocorrido em 9 de dezembro, uma sexta-feira, no Palácio da Alvorada, segundo reportagem da revista Veja. Porém, em entrevista a outros veículos de imprensa, do Val teria dito que pode ter ocorrido no Palácio do Jaburu, no Alvorada ou na Granja do Torto. Não há até o momento imagens do encontro e nem registros em agenda oficial, mas o próprio filho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro, não negou que ela tenha ocorrido.
Há a especulação de que GSI (Gabinete Segurança Institucional) e Abin (Agência Brasileira de Inteligência) pudessem estar envolvidos no plano, já que Do Val relatou que Bolsonaro afirmou que as estruturas cuidariam do suporte técnico, fornecendo equipamentos de espionagem. Isso será investigado.
Recuo do senador e novas versões da participação de Bolsonaro
Primeiro, em uma live de madrugada renunciando ao cargo de senador, Do Val disse que Bolsonaro tentou coagi-lo a dar um golpe para seguir no Palácio do Planalto e impedir a posse do então presidente eleito Lula.
Horas depois, questionado pela Folha, o senador recuou na acusação direta e disse que Bolsonaro “só ouviu” o plano do ex-deputado federal Daniel Silveira e afirmou que iria pensar a respeito. Apesar disso, teria sido o próprio presidente que ligou para ele convidando para o encontro e um carro da Presidência que o teria levado para o local da conversa.
Para a PF (Polícia Federal), o senador disse em depoimento que Bolsonaro permaneceu calado, mas não demonstrou contrariedade ao ouvir o plano de Silveira.
Em nenhuma versão do Val nega a reunião, mas parece ter buscado aliviar o papel de Bolsonaro no suposto plano golpista.
Moraes sabia da reunião?
Do Val afirma que após o contato para agendar a reunião, foi aconselhado por Moraes a ir e ouvir o que o ex-presidente queria dizer, a fim de ter mais informações. Depois, ele teria avisado o ministro sobre o teor da conversa, que se mostrou surpreso.
Apesar disso, a prisão de Daniel Silveira não teria a ver com estas informações. A versão oficial do STF é de que a prisão foi ordenada após o ex-parlamentar descumprir medidas cautelares impostas anteriormente pelo ministro Alexandre de Moraes.
Próximos passos das investigações
A Polícia Federal atua em quatro linhas de investigação para apurar todos os fatos e pessoas relacionados aos ataques golpistas e vandalismo realizados por apoiadores de Bolsonaro. O depoimento de Marcos do Val pode fortalecer as suspeitas de que as seguidas investidas golpistas do ex-presidente contribuíram para os ataques.
Estão na mira dessas investigações o ex-presidente, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e autoridades que atuaram ou se omitiram durante a investida golpista, além dos financiadores e mentores dos ataques.