Para o MDSN: Quem quiser crédito, não pode privatizar
Em entrevista ao podcast Mundioka, Elias Khalil Jabbour, autor de “China: o socialismo do século XXI”, diz que a China “não quer o fardo de ser dona do mundo, como os EUA”, mas sim fortalecer outros Estados para alavancar a geopolítica multipolar.
A China é, sem sobra de dúvida, uma das grandes potências do mundo contemporâneo. É um dos países que mais cresceram nas últimas décadas, com uma média de 10% ao ano, e se colocou no cenário global como uma possível rival dos Estados Unidos na ascensão do mundo multipolar.
Mas o país tem um complexo sistema, que se divide entre o socialismo, implantado pelo Partido Comunista Chinês (PCC), e o capitalismo. Essa combinação traz a seguinte dúvida: afinal, a China é um país socialista ou capitalista?
Para responder a essa questão, as jornalistas Melina Saad e Thaiana de Oliveira, do podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, entrevistaram Elias Khalil Jabbour, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas (PPGCE) e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coautor do best-seller “China: o socialismo do século XXI”, com Alberto Gabriele.
O livro é fruto de trabalhos teóricos e estatísticos dos autores e analisa a China como a locomotiva do sistema econômico global que o país se tornou, além de fazer uma reflexão sobre o que é o socialismo chinês. Ele também aborda quais são as perspectivas para a relação do Brasil com a China, a principal parceira comercial do país, na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na entrevista, questionado sobre o que permitiu a ascensão da China como vista hoje, Jabbour destaca que ela é fruto “da capacidade do país de gerir seus próprios interesses, dentro dos esquemas que eles mesmos [os líderes chineses] construíram”, especialmente no período pós-Segunda Guerra Mundial.
Ele acrescenta que, aliado a essa revolução, “a China construiu uma boa base material nos últimos 40 anos, que garantiu ao país mais soberania diante do mundo”.
“Ela [a China] se transformou na oficina do mundo, no maior credor líquido do mundo. A China, sozinha, empresta para os países em desenvolvimento mais do que o FMI e o Banco Mundial juntos. E hoje a China é a maior provedora de bens públicos do mundo, ela instala milhares de ferrovias mundo afora, rodovias.”
Segundo Jabbour, esse fomento financeiro e em infraestrutura contribui “para que a China seja bem-sucedida na questão política”.
Questionado sobre se classifica a posição da política externa da China como neutra, Jabbour é categórico ao afirmar que não.
“Diferentemente do Japão e da Coreia do Sul, que são países que emergem a partir do pós-Segunda Guerra Mundial atrelados à área de influência dos EUA, a China fez uma revolução em 1949, que deu liberdade de manobra para gerir sua política externa de acordo com seus interesses”, explica Jabbour.