Pedro Augusto Pinho*
Quando se ouve de militares da mais alta patente, em pleno gozo de seus direitos de cidadania, afirmar que o comunismo é o grande inimigo, o maior problema do Brasil, só se pode concluir que se trata de um embusteiro ou de um imbecil. Não vai aqui qualquer defesa do socialismo marxista, mas a constatação dos males que a ideologia neoliberal vem provocando não só em nossa Pátria, mas no mundo inteiro.
Tome-se o circo anual, que se realiza na comuna de Davos, no Cantão dos Grisões (Graubünden), de língua alemã, com menos de 15 mil habitantes, na Suíça, denominado Fórum Econômico Mundial (FEM). Do que trata? De divulgar o neoliberalismo, influenciar e/ou corromper pessoas, com algum tipo de poder, a adotá-lo em seu país ou em sua área de influência. Nada mais do que isso.
A usura, típica do neoliberalismo, e o egoísmo, que move seus agentes, conduziram boa parte do mundo, principalmente os que estão dominados pelo contexto do Atlântico Norte, nestas décadas do século XXI, à situação de penúria, perdas, guerras, miséria que o desenvolvimento tecnológico parecia ter afastado da civilização humana.
No entanto, o neoliberalismo está em crise e a farsa deste encontro de 2023 tem o título: “Cooperação em um mundo fragmentado”. Curiosamente, há 30 anos, o FEM fazia reunir, em Davos, Frederik Willem de Klerk e Nelson Mandela, Yasser Arafat e Shimon Peres, levando a crer que era o local para solução de diferenças. E a globalização, seu discurso e meta, inaugurava um novo mundo de paz. Que farsantes!
Quantas crises, quantas guerras o mundo sofreu nestes 30 anos?!
Veja-se a Líbia, o país africano de maior índice de desenvolvimento humano (IDH), de acordo com as Nações Unidas (ONU), hoje regredindo para séculos, na condição de regiões disputadas por tribos e religiões de origem islâmicas, muito antes que o rei Idris declarasse a independência do país, em 24 de dezembro de 1951, com o nome de Reino Unido da Líbia. E Muamar Gadafi, filho de beduínos nômades, fundasse, em 1966, a União dos Oficiais Livres, tomasse o poder, criando, com 27 anos de idade, o governo exercido pelo Conselho do Comando Revolucionário, islâmico, nasserista e socialista, fechando bases militares estadunidenses e britânicas, e impondo severos controles a empresas transnacionais petrolíferas, instaladas na década de 1960. Era o novo período, nacionalista e desenvolvimentista, extinto em 2011, com a invasão neoliberal, coordenada pelos Estados Unidos da América (EUA) e seu mentor, o Reino Unido (UK), sob abrigo da ONU.
Um verdadeiro surto mental toma conta das pessoas, impondo a ignorância, a fraude, a hipocrisia, as falácias, pelos sistemas de educação, pelas comunicações de massa e, principalmente, pelas redes virtuais, controladas pelos neoliberais, pelas finanças apátridas, que viram, desde 1920, o poder da informação pela tecnologia que surgia com as máquinas de processamento de dados.
Hoje todo complexo de equipamentos, software e hardware de comunicação estão nas mãos do BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, JP Morgan, Goldman Sachs, Allianz, BNY Mellon, Amundi e a suíça UBS, entre outros menores gestores de ativos.
E são eles que usam o FEM para dizer o que querem dos governos e empresas que se submetem, como pets amestrados, aos encontros anuais.
Ora, qual cooperação esperam do mundo que eles pretendiam globalizado mas geraram fragmentado?
De início é importante verificar o estado de saúde destes gestores de ativos, nomeados anteriormente como exemplo de detentores do sistema de comunicação digital, e os recursos dos tesouros nacionais e do próprio sistema financeiro internacional.
Os recursos advindos com as privatizações, por todo mundo submetido à ideologia neoliberal, logo se evaporaram por erros e especulações que apenas aceleraram a concentração de bens e rendas. A tal ponto que países europeus estão reestatizando serviços importantes para preservação das suas sociedades nacionais, como transporte, saneamento urbano, fornecimento de energia.
E mesmo usando de “crises” para receber dinheiro dos tesouros nacionais, de empresas públicas e até mesmo privadas nacionais, em especial das nações menos desenvolvidas, os neoliberais prosseguiram acumulando títulos sem lastro em suas especulações, chegando hoje, nesta década de 2020, ao montante de centenas de trilhões de dólares estadunidenses (USD), próximos, se ainda atingiram, ao quatrilhão de USD.
Daí a “cooperação” exigida, ou seja, “responsabilidade fiscal” e “energia limpa”, por todo planeta, em todos os países.
O que significa “proteção climática pelo uso da energia”, algo semelhante ao “emagrecimento humano pela exposição ao luar”?
As fontes primárias de energia não foram escolhidas pelo acaso, nem por inspiração divina. Elas representam aquelas de maior quantidade de energia e aplicabilidade industrial por valor investido, ou seja, a que dá maior retorno ao investimento. E estas são as de origem fóssil, em especial o petróleo, nas formas de líquido ou gasosa (óleo e gás).
A USD 200 o barril, o petróleo é ainda econômico em relação às aplicações de outras fontes primárias. Mas, e aqui está o pulo do gato, onde existe petróleo? Fundamentalmente em três polos: na Rússia, incluindo alguns países da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), hoje denominados Comunidade dos Estados Independentes (CEI), no Oriente Médio, se estendendo pelo norte da África, e na América Latina, especialmente na Venezuela (maior reserva de petróleo do mundo) e no Brasil, com o pré-sal.
Então se inventa esta falácia do petróleo e não das mudanças geológicas da Terra, para as alterações climáticas. Lembrem-se que o deserto do Saara já foi uma floresta, que o Amazonas parte oceânica, e a própria Suíça, onde se realiza o FEM, já foi mar. E sem qualquer poluição pelo uso do petróleo sofreram estas mudanças radicais. Mas quem se atrever a expor estas realidades será considerado louco ou imbecil. Enquanto a senhora Marina Silva pode impedir o desenvolvimento brasileiro, reproduzindo informações parciais e obstaculizando construção de usinas de energia hídrica, por causa de um estágio de evolução de determinado tipo de peixe, que ela é incapaz de determinar, mas tem, por trás de seus discursos, banqueiros que a homenageiam e patrocinam.
Qual é a realidade da energia? Por fonte de empresa, pertencente aos gestores de ativos, que edita, há mais de 70 anos, estatísticas de energia, temos que (dados de 2021) o petróleo é usado por 55,37% da população mundial, a soma das energias de origem fóssil (óleo, gás e carvão) por 82,25%, a nuclear 4,25%, as de fontes hídricas, que exigem rios com adequado volume de água, 6,80%, e as que classificam como renováveis (eólica, solar, das marés, de fontes da produção agrícola) 6,70%. Seriam as renováveis tão pouco usadas se garantissem a mesma quantidade de energia e de aplicações como as fontes fósseis, produzindo fertilizantes e petroquímicos?
A questão climática é um modo de manter estas regiões produtoras de petróleo sob alguma forma de controle e de subordinação. A guerra que a Organização do Atlântico Norte (OTAN), organização belicista, trava contra a Federação Russa, no território eslavo da Ucrânia, e com sanções de diversas naturezas por países de sua coligação, após a mudança do dirigente ucraniano, por golpe de estado, é a clara demonstração do que significa o petróleo, de importante supridor dos países europeus, para as finanças apátridas.
O golpe de 2016, no Brasil, visou principalmente ao controle da Petrobrás, quando a realidade do pré-sal, com mais de uma centena de bilhões de barris de petróleo de reservas, tornou-se indiscutível. As sanções à Venezuela, as constantes ameaças de revoluções coloridas no mundo árabe, aí encontram suas origens. Senhores membros de Estado Maior e de Comando das três forças voltem aos bancos e reestudem geopolítica, porque suas compreensões estão prejudicando seriamente o Brasil.
Porém não para aí, na questão climática, esta cooperação do mundo fragmentado. É preciso combater a República Popular da China (RPCh) e sua influência na construção do mundo multipolar, na real possibilidade de nações atingirem seus objetivos de soberania nacional. O colonialismo financeiro está em crise e já não pode corromper, como o fez nas décadas 1980 e 1990, lideranças e governos pelo mundo.
Depois de ter um Fernando Henrique Cardoso, que vendeu a Petrobrás na bolsa de Nova Iorque, teve que se contentar com um Jair Messias Bolsonaro, que trocou os pés pelas mãos, mais fez pelos seus colegas militares do que pelos dirigentes financeiros. Afinal o alcance de seu descortino é limitado. E Paulo Guedes não estava à altura de sua missão destruidora do Estado Brasileiro, embora tenha se esforçado bastante, só conseguiu o Banco Central dependente apenas das finanças apátridas, independente dos interesses nacionais brasileiros.
E há verdadeira crise prestes a explodir, como as greves no Reino Unido, as manifestações de rua na Alemanha e na França, os mais populosos, ricos e desenvolvidos países europeus demonstram claramente. Também não se pode esconder o desenvolvimento asiático e da CEI, integrantes da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) ou Nova Rota da Seda, que sob a liderança compartilhada da RPCh, e da ação da Organização para Cooperação de Xangai, que cresce em participação, pelos países interessados na cooperação para a segurança — contra terrorismo, separatismo e extremismo —, além dos temas econômicos e culturais, ameaçam a colonização financeira.
Portanto, mais uma vez, o FEM mostra ser a forma de colonização das finanças apátridas, que dominaram o ocidente com as desregulações dos anos 1980, e após os triunfos dos anos 1990, conhecem a derrocada no século XXI. O Brasil não precisa desse abraço de afogado.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.