Promessa na época era interligar 19 mil escolas. Até hoje, só três escolas foram conectadas à internet. Enquanto isso, milhares de garimpeiros, muitos à frente de atividades ilícitas, usam e abusam dos satélites de Elon Musk e sua Starlink
Em maio de 2022, Jair Bolsonaro (PL) ofereceu ao bilionário norte-americano Elon Musk, dono da Starlink, a região amazônica para exploração de serviços de internet. Na época, Bolsonaro encheu a bola do serviço oferecido pelo bilionário americano e disse que ele poderia também controlar o desmatamento na região.
O ex-mandatário fez isso após atacar o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o órgão brasileiro responsável pelo controle de desmatamento na Amazônia e em outros biomas. Disse que o americano faria melhor o serviço de fiscalização da Amazônia.
Nos salamaleques feitos em homenagem ao picareta americano, Bolsonaro anunciou que o bilionário se comprometia a levar internet para 19 mil escolas do Amazonas. Até o momento, segundo reportagem do site UOL, a empresa de Musk só levou internet a três escolas estaduais no Amazonas.
As antenas foram doadas em setembro do ano passado como uma “demonstração do serviço” da Starlink, mas não houve novas instalações na rede de ensino desde então.
O que Elon Musk fez mesmo na região foi equipar o garimpo ilegal e o crime organizado. Antenas da Starlink têm sido apreendidas em operações de fiscalização das atividades criminosas. Elas podem ser compradas em grupos de garimpeiros no WhatsApp e no Facebook.
O garimpo tem abandonado a comunicação via rádio devido ao acesso crescente à internet, segundo os fiscais. De acordo com essas fontes, o garimpo monitora constantemente a presença dos órgãos ambientais nas áreas protegidas.
Além de não haver nenhuma regulação da operação da empresa no Brasil, que nem sede no país tem, o uso de seus satélites tem ajudado o crime organizado. A velocidade na comunicação dos garimpeiros tem aberto brechas na fiscalização. No início do ano, por exemplo, o governo instalou um cabo de aço sobre um rio na Terra Indígena Yanomami para controlar o trânsito fluvial. Em maio, esse cabo se rompeu e, na mesma noite, barcos clandestinos passaram pelo local.
E para piorar, revendedores não autorizados da Starlink praticam preços mais altos que o oficial. No site da empresa no EUA, a antena é vendida a partir de R$ 1 mil e a mensalidade sai a partir de R$ 184, mas nos grupos chega-se a cobrar mais de R$ 8 mil pelo equipamento.
A venda paralela é mais cara, entre outros motivos, porque permite uso no exterior. Hoje a Starlink não faz entregas para Venezuela, Suriname e as Guianas, mas garimpeiros brasileiros levam as antenas a estes países, onde é possível acessar o sinal normalmente.