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Cid confirma à PF que partiram do “mito” as tentativas ilegais de retirada das joias

    Membros do governo tentaram entrar cladestinamente com as joias no Brasil. Depois de apreendidas, Bolsonaro fez oito investidas irregulares para se apoderar delas. “Faz-tudo” confirmou que foram dele as ordens para resgatar as joias

    O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, prestou depoimento por videoconferência à Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (22). Ele está preso e confirmou que as tentativas de resgate das joias apreendidas pela Receita foram feitas a mando de Bolsonaro.

    No total, foram oito tentativas, inclusive nos últimos dias de governo. Pressões foram feitas sobre os fiscais da Receita Federal para sacar as joias a mando de Mauro Cid e Bolsonaro.

    As joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, foram retidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos quando um auxiliar do então presidente tentou introduzi-las clandestinamente no país. O então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, voltava de uma viagem da Arábia Saudita quando um de seus auxiliares tentou despistar os fiscais da Receita escondendo as joias no fundo de sua mochila.

    Os fiscais deram o flagrante e explicaram que, se as joias eram presentes, deveriam ser registradas como tal. Caso contrário, ou seja, se fossem pessoais, teriam que ser declaradas oficialmente e as taxas de alfândega recolhidas. Os representantes do governo se recusaram a registrar as joias como presentes oficiais e tentaram internalizá-las clandestinamente.

    Barrados, eles tentaram retirá-las ilegalmente. Pressões de todo tipo foram feitas pelo Planalto sobre os servidores da Receita.

    Procuradores do Ministério Público Federal da Procuradoria da República de Guarulhos, onde tramita uma investigação de forma complementar à apuração da Polícia Federal de São Paulo, consideram que há fortes indícios de crime por parte de Jair Bolsonaro ao tentar se apossar das joias árabes.

    Numa das tentativas de retirada ilegal das joias, em dezembro do ano passado, pouco antes do fim do governo, o Palácio do Planalto enviou um emissário para pressionar os funcionários da Receita. Ele tentou também pressionar o então chefe da Receita, Júlio César Vieira Gomes. Para o MPF, essa operação configurou uma tentativa do crime de peculato porque essas joias já constituíam patrimônio público.

    “Mauro Cid tentou dar aparência de legalidade à retirada dos bens”. “Nos dias 28 e 29 de dezembro do ano de 2022, praticamente um ano e dois meses após a retenção das mercadorias, apurou-se uma possível tentativa de desvio das joias para o acervo pessoal do ex-presidente da República, através de uma aparente ‘roupagem formal’, não concluído em razão da resistência dos servidores da autarquia fiscal em descumprir a normativa fiscal e o trâmite regular, apesar das não usuais e reiteradas abordagens do ex-secretário especial da Receita Federal”, afirma o MPF.

    O então ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid, havia feito um ofício à Receita Federal antes de enviar o assessor no dia 29 de dezembro ao Aeroporto de Guarulhos para tentar pela última vez retirar o material. Em defesa da lei, os auditores fiscais não permitiram a retirada.

    Também houve pressão do então chefe da Receita Federal sobre os auditores para a liberação dos bens solicitados por Bolsonaro. Ao afirmar no depoimento que tudo era feito por ordens do chefe, Mauro Cid confirma a participação do presidente nas tentativas de se apoderar ilegalmente das joias.

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