EDUARDO DE AZEREDO COSTA*
Todas as iniciativas de doação para os yanomamis são importantes e não só para eles neste momento, como para toda a sociedade brasileira mostrar seu carinho e solidariedade com seus irmãos indígenas. E sua indignação com o cerco a que foram submetidos nestes tempos escabrosos de corruptos poderosos.
O Brasil, mas em especial os mais indefesos e vulneráveis, foi subjugado pelo bolsonarismo, braço aparente de uma direita fascista que aqui vingou no seio fétido de 1964. Na redemocratização o tumor não foi lancetado e latente pulsou. Pelo avesso, criando parcerias destrutivas. Por vezes, como nas falas de ministro do exército, arrotou flatulências.
Na cadeia de causas do massacre yanomami a mão vil da FUNAI só mostra como as instituições brasileiras são frágeis. Os que se contentam em lavar as mãos capitalizando o que iniciativas individuais fizeram, se julgam limpos, mas carregam estes micróbios que putrefazem instituições, que vivem das deformações pagas de suas fortalezas midiáticas.
Entre as causas, a falta de cadeia para as pessoas certas; o dano e a injustiça secular como o colonialismo escravagista permeiam nossa história. Se não podemos mudar a história longínqua, que tal, além de cultuarmos nossos verdadeiros heróis, fazer justiça agora?!
Para mim, aos 80 anos, 1964 ainda é ontem e não foi reparada como devia já que purga – ainda há memória viva, documentos, testemunho e tempo. As milícias de hoje, vicejam e deformam até a democracia eleitoral a partir dos esquadrões da morte da ditadura. O assassinato de Marielle passou pelo condomínio horizontal do presidente ilegítimo coabitado por alguns delas e armas contrabandeadas.
Mais perto, em 2016, assistimos com indignação de poucos o apedrejamento de uma presidente. Bolsonaro, agressor público, se torna o beneficiário político do golpe. Quem quis saber que tudo tinha a ver com contratantes de garimpeiros do ouro negro? Mas, se catava vento, o deboche era como nas praças romanas: – Estocar vento! – Há, há, há!
Quanta estupidez de quem se acha inteligente. Como que nosso futuro desenhado com recursos necessários para educação e saúde se dissolvem com um piscar de olhos fazendo um barril de 140 dólares se converter em 35, ou seja, a 1/4? Quem administra isto? Quem nos levou o controle da Petrobras e nos fez combustíveis aumentarem mais de 4 vezes?
Como o TCU, o Ministério Público e até a Suprema Corte, acompanham mais que inertes, solidários, ainda que alguns com um grau de vergonha, a farsa das pedaladas fiscais? E a concertada fora do Brasil injusta prisão do ex-presidente?
Não, não precisamos caçar todas as bruxas, mas não é demais fazer com que reflitam. A pedra na mão é fácil no meio da turba para quem consentiu ou colaborou.
A chancela de eleições manipuladas em meio a prisão indevida de Lula e compra desenfreada de parlamentares com dinheiro público com as emendas parlamentares que destroem o planejamento governamental e se tornaram secretas, não merece ser esquecida. São uma excrecência.
Mas Bolsonaro, produto infame disto tudo, fede mais que todos porque é produto disforme de 1964 e 2016 corrompido pela rapina internacional, que bate continência para a bandeira americana e se aliou a fascistas de todo o mundo.
Nesta quadra do tempo, a dobra do espaço nos aproximou dos novos viajantes. Há que falar para eles de um tempo melhor. De outro olhar; que não estamos sós – o mundo fervilha de incertezas e novas perspectivas. Novos heróis improváveis surgirão!
Lula começou muito bem, a frente ampla foi decisão política correta e é com ela, com todo o arco da sociedade, que desbaratou a intentona de 8 de janeiro, e se há de banir a fome, a fraude e a violência contra os pobres e todas as vítimas de discriminação.
Fortalecidos acabaremos também com a FOME DE JUSTIÇA!
* Médico-sanitarista e PhD em epidemiologia