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Análise: crise na maior fabricante de mísseis do Brasil é retrato de um Exército que depende da OTAN

    Fonte: Sputinik Brasil

    O que o colapso da Avibras, a maior fabricante de material bélico do Brasil, tem a ver com a dependência do Exército Brasileiro (EB) da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)? Para especialista em defesa e assuntos estratégicos, as Forças Armadas do Brasil estão negligenciando os verdadeiros perigos ao país.

    Considerada estratégica pelo Ministério da Defesa, a Avibras vive a pior crise de sua história. Em recuperação judicial, a maior fabricante de material bélico do Brasil, dona de um arsenal que inclui mísseis, blindados e lançadores de foguetes, tem uma dívida de R$ 640 milhões e enfrenta uma greve de trabalhadores desde setembro.

    Para Eduardo Siqueira Brick, professor de Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança na Universidade Federal Fluminense (UFF), isso ocorre porque as Forças Armadas do Brasil, há décadas, agem como se estivem presas em um clico vicioso, negligenciando a capacidade de logística e defesa do país.

    Isso significa que o Brasil deixou de investir em dois pontos críticos para garantir a sua plena capacidade de se defender ante qualquer ameaça. Como aponta Siqueira Brick, são eles: “capacidade industrial, para conceber e fabricar armas para as Forças Armadas; e a capacidade de suprir unidades durante um combate, promovendo o abastecimento de munições, peças sobressalentes, alimentos e combustíveis“.

    Hoje, se o Brasil entrasse em guerra, qualquer mobilização mais longa para o Exército Brasileiro dependeria da boa vontade da OTAN. Para Siqueira Brick, existem muitos imperativos geopolíticos exigindo, neste momento, que o Brasil repense todo o seu investimento em Defesa. Para além dos riscos que se escondem em nossa incapacidade de prever uma futura agressão, regra atemporal para qualquer exército no mundo, “a dependência de outros países é um erro crasso, crítico, que pode mudar o curso de um conflito”.

    ‘O Exército parou no tempo’

    Nos últimos anos, o Exército Brasileiro modernizou a frota de suas três forças priorizando contratos junto a consórcios internacionais ligados à aliança militar da OTAN. A compra mais recente envolveu a aquisição de 98 veículos blindados da Itália por cerca de R$ 5 bilhões. Para o analista militar, isso evidencia que a defesa do Brasil está quatro décadas parada no tempo.

    Siqueira Brick apontou que países com economia menor, “como Coreia do Norte, Irã e Turquia, conseguiram desenvolver uma indústria nacional própria de defesa” com avanços bastante satisfatórios. Em seguida, ele enfatizou que os três países conseguiram esses avanços apesar de correrem contra o tempo, “enquanto lidam com conflitos” e pequenas tensões regionais.

    O problema do Brasil, diz ele, é que “Exército parou no tempo”. Apesar de viver em paz com outros países há anos, a instituição está em inércia. “Falta conhecimento para os militares brasileiros. O Ministério da Defesa colocou no principal documento de defesa do país que não é imperativo o desenvolvimento de uma indústria para assuntos militares“, comentou.

    Além disso, diz ele, falta vontade política. O especialista lembrou o histórico caso francês, que só foi “criar o chamado Ministério do Armamento depois de ser invadida pela Alemanha, quando se reconheceu que não havia mais tempo para resistir à invasão das forças nazistas”.

    Ele ressalta que o Brasil, por um lado, dispõe de uma grande quantidade de engenheiros e profissionais formados nas academias militares, que poderiam servir de mão de obra para uma indústria nascente, “os profissionais de logística de defesa”.

    O problema, entretanto, é a falta de vontade política para criar um novo órgão para gerir o Ministério da Defesa e as Forças Armadas de forma conjunta, estabelecendo planos, metas e, principalmente, “as condições para o desenvolvimento de uma zona industrial de defesa voltada a suprimir as necessidades de combate das Forças Armadas”.

    O apagão industrial na Defesa do Brasil

    Citando algumas empresas que passaram por graves crises nos últimos anos, como os casos emblemáticos da MECTRON e da Avibras, Eduardo Siqueira Brick reconhece que retomar o desenvolvimento de uma indústria que parou no tempo “é um processo de décadas”, que passa também pela modernização da infraestrutura que já existe.

    Para começar isso em algum ponto, ele aponta que é necessário tomar uma decisão política, que virá necessariamente de Brasília: “Politica de defesa não é atribuição das Forças Armadas, mas, sim, do Estado do Brasil. As Forças Armadas são instrumentos de defesa”.

    Em segundo lugar, é imperativo criar um orçamento de gestão de defesa, com soluções e compromissos para sustentar a capacidade operacional de combate das tropas e a capacidade de assegurar a elas o arsenal de guerra do Brasil.

    “Os meios atuais ficam obsoletos muito rapidamente, e quando chega a hora de usar, eles não são mais necessários”, disse Siqueira Brick, acrescentando que, em tempo de paz, “você deve aproveitar a janela de oportunidade para priorizar essa força de defesa”.

    Qual é a reforma necessária na logística de defesa do Brasil?

    Na avaliação do analista militar, a palavra de ordem para o Brasil “é a reforma na logística de defesa”. Ele explica que o país precisa se livrar de sua dependência do arcabouço internacional da OTAN, “que cerceia o aparecimento de uma indústria nacional volta para assuntos militares“, pois ninguém compartilha tecnologia de guerra moderna no mundo de hoje.

    Para que a reforma aconteça, o país precisa compreender “alguns conceitos que são fundamentais e óbvios: para defender os interesses e soberania de um país do tamanho do Brasil, nossa capacidade militar precisa de dois componentes. Um deles é capacidade operacional de combate, para enfrentar ameaças no campo de batalha“, disse ele.

    Para isso, diz o analista, é preciso ter capacidade de logística defensiva, que passa pelo desenvolvimento de uma indústria nacional de defesa, apta a conceber e fabricar armas para as Forças Armadas e suprir as unidades e tropas durante um combate. “Tão importante quanto a Marinha ter uma frota, é o país ter uma indústria para fornecer esses meios“, avaliou.

    Neste sentido, dado o processo de desindustrialização histórico no país, “é preciso criar incentivos” para novos empreendedores do setor, com condições melhores do que “deixar de pagar imposto para vender para as Forças Armadas”. Segundo Siqueira Brick, o governo federal erra ao “não garantir mercado para os novos empresários do segmento, e isso é um reflexo do que estamos vendo com a crise da Avibras“.

    “O grande problema é que não existe compromisso do Estado com a sobrevivência dessas empresas”, apontou, acrescentando que falta coordenação mesmo entre os militares do alto escalão do Exército. “Falta uma autoridade para desenvolver a base industrial do país. São 15, 18 autoridades, entre generais de quatro estrelas, ou mesmo civis, e não tem um comando comum. Isso é completamente diferente do que existe no resto do mundo”.

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